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NÃO SOU

O NEVES

AÉCIO DE PAULA

Por que diabos eu seria obrigado a torcer por Bolsonaro?

  • Foto do escritor: Aécio de Paula
    Aécio de Paula
  • 6 de jan. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 6 de jan. de 2019

Se o governo do presidente depender da minha boa vibração, pode começar a se lamentar.

Bolsonaro pede pacto nacional em discurso de posse na Câmara Federal // Foto - Reprodução (Globo)
Bolsonaro pede pacto nacional em discurso de posse na Câmara Federal // Foto - Reprodução (Globo)

“Torcer contra Bolsonaro é torcer contra o Brasil”. Você provavelmente deve ter ouvido ou lido essa frase seja nas ruas, nas redes sociais ou mesmo de um tio naquela famigerada reunião de família. O mantra está virando hit na boca não só dos eleitores do presidente. Afinal, parece meio óbvio e simples: se Bolsonaro é o presidente do Brasil, então precisamos torcer para que ele faça um bom governo, certo? Pra mim, não. Não conte comigo nessa torcida.


Primeiro porque essa história de ser obrigado a torcer pelo governo me remete imediatamente a muitos dos governos ditatoriais que temos ao redor do mundo hoje. Na Venezuela, por exemplo, essa é a estratégia utilizada por Nicolás Maduro. Para o ditador, torcer contra ele, é torcer contra o país. É assim também na Coreia do Norte, na Nicarágua e na Hungria, assim como nos regimes ditatoriais de direita da América Latina nas décadas de 60 e 70. Vale lembrar do lema “Brasil: ame-o ou deixe-o”, utilizado pelos militares brasileiros na ditadura militar de 1964.


Segundo porque eu jamais ousaria torcer por alguém como Jair Bolsonaro em qualquer que fosse a situação. O fato do presidente ter sido eleito não apaga todas as coisas que ele falou durante toda a sua vida. “Não te estupro porque você não merece”, “Se dar um coro ele deixa de ser viado”, “Sou homofóbico com muito orgulho” e “O erro da ditadura foi torturar e não matar” são algumas das frases dele que me despertam repulsa. Por que diabos eu teria que torcer por alguém que me desperta nojo? Se você votou em Bolsonaro e está lendo este texto, fique sabendo que nós não estamos no mesmo barco. Eu jamais me uniria com você ou com seu candidato para nada. Nós não temos objetivos em comum.


Terceiro porque o mantra da obrigação de torcer pelo governo ultrapassa os limites de qualquer nível de alienação. Sendo eleitor ou não do presidente e concordando ou não com os seus ideais, o nosso papel aqui não é o de torcedor, é o de fiscalizador. Bolsonaro, como qualquer outro chefe de estado, precisa entender que as pessoas não estão ali prontas para aplaudir tudo o que ele faz, e sim, que elas estão vigilantes diante de cada gesto que ele toma. A linha entre torcer e achar que tudo está sempre muito bem é muito fina, o desejo de que dê tudo certo a qualquer custo e o medo de assumir que fez uma aposta errada são ingredientes perigosos para qualquer democracia, porque estimulam essa ideia de que o presidente é um ídolo, a pessoa que é perfeita e não erra.


Com Bolsonaro, essa equação toma uma proporção diferente e muito mais significativa. Vou além ao dizer que torço contra o seu governo. Eu torço para que ele não consiga fazer nada do que prometeu. Torço com todas as minhas forças para que ele não consiga se relacionar bem com o Congresso a ponto de não conseguir aprovar medidas catastróficas como uma reforma da previdência ainda mais cruel com os pobres. Torço para que ele não consiga colocar em prática as suas terríveis ideias para o meio ambiente, que teriam prejuízos incalculáveis para as próximas gerações. Torço para que ele continue sendo a piada internacional que é hoje, para que outros países pensem muito bem antes de eleger os seus próprios Bolsonaros. E acima de tudo, torço contra para que os próprios brasileiros deixem de achar que vai ficar tudo bem se elegermos sempre as primeiras piadas que aparecerem na mídia.


Será que os que aqui estão exigindo esta torcida pelo Bolsonaro foram pacientes nos governos de Dilma Rousseff? Além de alienante, é hipócrita acreditar que agora torcer por Bolsonaro é torcer pelo Brasil. Não é. De qualquer forma, isso aqui não é Copa do Mundo. E mesmo que fosse, não se preocupe. A minha torcida não tem qualquer influência no que acontecerá com o Brasil pelos próximos quatro anos. Muito mais influente foram os que colocaram Bolsonaro no poder, seja por ação ou omissão. A sua posição nas eleições foi a grande responsável pelo que está acontecendo agora, e ela sim vai trazer consequências. Não duvide. Nós estaremos aqui para lhe cobrar.

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