Ciro Gomes: progressista ou conservador? Está na hora de decidir
- Aécio de Paula
- 30 de nov. de 2018
- 3 min de leitura
Ao dizer que políticas públicas voltadas para “minorias identitárias” são um desrespeito para a sociedade, Ciro tenta aumentar seu leque de seguidores. Perderá os que já tinha conquistado antes?

Que o ex-governador Ciro Gomes é um dos maiores nomes do que podemos chamar de esquerda econômica do Brasil ninguém pode negar. Aconteça o que acontecer, o ex-ministro sempre se posicionou como uma espécie de anti neoliberal. Um crítico ferrenho do que sempre chamou de um sistema privatizador entreguista que ameaça a soberania do Brasil. Mas seu lado de defesa das minorias sempre foi um motivo de dúvida constante. Seria Ciro um progressista ou um conservador nos costumes?
A dúvida tem motivo para existir. Seus atos e declarações nem sempre andam na mesma linha ideológica. No decorrer de sua história política, ele defendeu um debate menos religioso e mais complexo sobre questões como descriminalização do aborto e das drogas. Também se posicionou de maneira favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, afirmando inclusive em entrevista que ninguém pode ser contrário a qualquer expressão de amor. Mas também deixou claro que esse debate não é o seu forte. Em entrevista a uma rádio de Belo Horizonte, ainda durante a campanha, Ciro disse que era candidato ao cargo de presidente e não ao cargo de “guru de costumes”.
Essa retórica um tanto complicada de entender do ex-candidato acompanha também alguns de seus posicionamentos polêmicos em relação ao público de defesa das minorias sociais e ambientalistas. Ciro costuma andar de mãos dadas com importantes parlamentares e empresários da chamada bancada ruralista. A prova foi a escolha da sua vice, a ex-senadora Kátia Abreu, que carrega consigo a fama de “rainha do desmatamento” e “deusa da escravidão moderna”.
Mais do que isso, logo depois das eleições norte-americanas de 2016, Ciro Gomes se mostrou simpático ao Donald Trump e aos seus ideais econômicos. Argumentou que a eleição do magnata foi um mal menor para os Estados Unidos e para o resto do mundo. Parece que as declarações polêmicas contra minorias feitas pelo atual presidente dos Estados Unidos não fizeram Ciro mudar de ideia nessa questão. Foi assim também com o próprio Bolsonaro, a quem Ciro Gomes sempre relutou em criticar mais duramente antes do processo eleitoral.
Aliás, em relação ao presidente eleito, Ciro sempre se disse seu amigo no período em que trabalharam juntos no Congresso. O respeito parece mútuo. Bolsonaro também afirmou em entrevista que votaria em Ciro Gomes. A proximidade está longe de revelar que os dois seriam “farinha do mesmo saco”, mas pode revelar que o debate em relação a defesa das minorias não está na pauta de Gomes. E ele ainda procura o posicionamento adequado nessa questão.
Em entrevista para a Globo News realizada no período posterior ao processo eleitoral, Ciro pareceu estar querendo se aproximar de um público mais conservador que optou por Bolsonaro e que pode se decepcionar com sua política econômica. O ex-prefeito de Fortaleza disse que o Brasil é um país extremamente generoso, mas que transformar essa generosidade em políticas públicas para minorias identitárias seria um desrespeito para a sociedade.
Ciro não detalhou quais seriam essas políticas públicas, talvez porque nem ele mesmo saiba quais são. O objetivo era mesmo parecer mais palpável para um público mais conservador e/ou religioso. Não é que ele tenha mudado de ideia, é só que ele mudou de discurso para atingir um leque maior do eleitorado, já que o que ele conseguiu atrair em 2018 não foi o suficiente para levá-lo ao segundo turno. Ao fazer isso, Ciro escolhe roubar eleitores de Bolsonaro, mas em contrapartida se distancia de um eleitorado petista, que em tese, é mais próximo de sua linha de pensamento tradicional.
Não há absolutamente nada de errado em ser conservador, menos ainda em se apresentar como um candidato conservador. Mas Ciro precisa decidir logo com quem andará de mãos dadas. Qual o verdadeiro? O que chama Bolsonaro de nazista filho da puta, ou o que diz que esse mesmo Bolsonaro não representa risco para a democracia? É aquele que defende com unhas e dentes o casamento gay, ou o que se nega a responder se esse mesmo casal gay pode adotar um filho? A hora de escolher é agora. Afinal, quem se diz amigo de todo mundo, na verdade não é amigo de ninguém.
Ciro é exatamente a soma disso tudo, não existe um verdadeiro, ele é o que peita Bolsonaro e depois abana o rabo. Votei nele no primeiro turno das eleições porque acreditava que seria a única alternativa a Bolsonaro com chances de vencer as eleições e também porque antes enxergava nele uma pessoa - acima de tudo - dialógica, Ciro sempre teve muito respeito aos seus oponentes, mas nunca me arrependi de um voto e Ciro inaugurou essa sensação em mim. Sair do Brasil, se mandar pra Europa num segundo turno daquele? Ciro ficou com raivinha dos brasileiros porque não o escolheu, provando que o que faz é por interesse privado e não público.
Tem também a questão de que ele…