Popularidade do governo Macron abre espaço para extremos avançarem ainda mais na França
- Aécio de Paula
- 3 de dez. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de dez. de 2018
Com insatisfação geral do povo francês, centrista vê subir a popularidade de partidos de extrema direita e esquerda.

Um homem fora da política, nem de direita, nem de esquerda, e que pretendia trabalhar com as melhores pessoas independente dos seus partidos. Era assim que se apresentava na campanha Emmanuel Macron. O centrista garantiu o direito de se tornar o 25º presidente da história da República francesa depois de vencer com relativa folga a candidata de extrema direita Marine Le Pen, no segundo turno das eleições presidenciais. Na época, Macron reuniu o apoio de nomes importantes do cenário político internacional como Barack Obama. Parecia um começo promissor para o ex-banqueiro.
Mas parece que foi apenas um breve sonho, e os franceses acordaram em uma vida real não muito interessante para eles. Segundo pesquisa divulgada pelo instituto Ifop, a popularidade do chefe de estado caiu mais 5 pontos e foi de 34% para 29%, em setembro deste ano, passando a ser a popularidade mais baixa desde que assumiu o cargo. A tão esperada guinada na economia francesa ainda não aconteceu. Pelo menos até aqui, as reformas liberais promovidas por Macron ainda não surtiram efeito. O que se vê é um aumento considerável dos impostos transferidos para a população. O desemprego também não deu muita trégua segundo dados divulgados nos últimos meses.
Dá pra colocar também nessa conta o escândalo com Alexandre Benalla, um dos seguranças mais próximos do presidente, que foi filmado agredindo manifestantes em protestos ocorridos em maio deste ano. Além disso, houve a demissão voluntária do até então ultra popular esquerdista ministro do meio ambiente Nicolas Hulot. Coisas assim, fazem Macron ser odiado por militantes da direita e da esquerda. Nas ruas de Paris, as pessoas passam a considerar os extremos como opções mais viáveis para a próxima eleição.
Em 2017, esses extremos já tiveram desempenhos interessantes e foram responsáveis diretos por tirar os dois grandes partidos (socialista e republicano) do segundo turno presidencial. Pela esquerda, Jean-Luc Mélenchon surpreendeu ao terminar o primeiro turno com mais de 7 milhões de votos. Mélenchon é eurodeputado pelo sudoeste da França e fundou o Partido França Insubmissa, que considerou como uma agremiação “verdadeiramente de esquerda” e voltada para uma crítica dura ao liberalismo econômico e um olhar mais direto na proteção do meio ambiente.
Pela direita, Marine Le Pen encantou milhões de eleitores desiludidos com as políticas de direita e de esquerda dos últimos anos. Marine é talvez o maior nome da extrema direita europeia. No seu discurso, defende duramente a saída da França da União europeia e se diz “completa defensora dos interesses exclusivos da nação”. Também é crítica da abertura irrestrita de refugiados no país.
Apesar de nenhum dos dois terem conseguido uma votação capaz de colocá-los no Palácio do Eliseu, os dois passam a ser considerados com mais carinho pelo eleitorado francês. Talvez Macron tenha representado a última chance real para um político chamado tradicional. Vale lembrar que apesar de ter se apresentado como um não político, o presidente já tinha ocupado altos cargos na política francesa, entre eles o de ministro da economia do governo Valls, quando aprovou reformas pró-empresariado.
Se Macron vai perder as próximas eleições presidenciais para um candidato de extrema-esquerda ou de extrema-direita ainda é muito cedo para saber. Daqui pra lá, muita coisa pode acontecer, inclusive a própria recuperação da sua popularidade. Mas a população francesa parece entender, nesse momento, que o discurso do “não sou político” também representa escolher um caminho, e que o centro pode não ser o caminho mais indicado para chegar onde querem.
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