O que a série “You” tem a nos falar sobre relacionamento abusivo?
- Aécio de Paula
- 14 de jan. de 2019
- 3 min de leitura
Produção distribuída no Brasil pela Netflix consegue viciar. Mas cumpre seu papel?

Em tempos de movimentações sociais feministas como o #MeToo nos Estados Unidos, estreia uma série que à priori não traz nada de muito novo. You, ou Você no Brasil, mostra a história de um homem com traços psicopatas que persegue uma mulher indefesa e enganada. É um roteiro extremamente comum em Hollywood. Mas então quais seriam os motivos para que a série explodisse globalmente?
Produzida pela emissora norte-americana LifeTime e distribuída no Brasil pelo serviço de streaming Netflix, You já se tornou uma máquina de produzir comentários - elogiosos ou raivosos - na internet. A repercussão se deve primeiramente ao momento em que a série está sendo lançada. Sim, ela fala sobre psicopatia, mas deita sobre o tema do relacionamento abusivo e até onde ele pode ser perigoso para a vítima.
À partir daqui o texto tem spoilers pesados. Se você não viu a série ainda, corre lá pra ver e depois volta. Mas se você não viu e não se importa em saber o que acontece na história, siga-me.
COM SPOILERS!
A série You tem incomodado boa parte dos usuários da Netflix por dois grandes motivos. O primeiro é que há uma sequência de situações altamente questionáveis. Estamos falando de situações que não fariam sentido algum na vida real. Por que a Beck não coloca uma cortina na varanda da sua casa? E por que ela troca de roupa na frente dessa janela sem cortina? Por que ela quase nunca consegue ver o Joe enquanto ele a persegue de muito perto? Por que ela não colocou uma senha no seu próprio celular? E por que a Peach deixou a porta da casa aberta? Logicamente isso incomoda qualquer telespectador mais atento. O outro motivo pelo qual a série está sendo detonada é o seu final. Mas isso a gente fala mais na frente.
Fato é que mesmo com essas críticas mais duras, não há muito o que se criticar tecnicamente. O roteiro é bem feito, as situações criadas tomam a sua atenção, a fotografia é muito bonita e até a trilha sonora é bem escolhida. Vale elogiar também a utilização da narração, que coloca o protagonista falando com você. Todas as atuações também foram muito seguras, sobretudo o trio Penn Badgley (Joe), Shay Mitchell (Peach) e Elizabeth Lail (Beck). Essa última fez um último episódio de aplaudir de pé.
Não se assuste se durante a série você mesmo tenha se questionado sobre o caráter do protagonista. Será que ele é tão mau assim mesmo? Será que ele está só apaixonado? Essa dúvida é colocada propositalmente na sua cabeça. A relação do Joe com o menino Paco (Luca Padovan) é colocada ali justamente com esse objetivo. Ficamos na dúvida se ele é ou não o grande vilão da série.
E aí voltamos a falar sobre o grande final. Motivo de críticas duras de muitos dos que assistiram todos os 10 episódios da produção, o personagem do Joe mata Beck. Teorias mais ousadas arriscam afirmar que ele não a assassinou, e que o corpo que ele enterrou foi de outra pessoa. Teorias deixadas de lado, de fato não há nada do que se criticar aqui. A série tinha uma responsabilidade muito importante de não romantizar um relacionamento abusivo. Foi importante mostrar que esse é infelizmente um final comum para muitas mulheres que vivem esse tipo de relacionamento. Não existe final feliz para relacionamentos desse tipo. Ou seja, sim. A série conseguiu alcançar o seu objetivo.
Nota final: a segunda temporada já foi confirmada.
Você
Lifetime/Netflix
4 de 5 estrelas
A sensação que essa série deixou em mim foi uma experiência terrível. Maratonei num sábado, passei o dia inteiro assistindo aos 10 episódios, no final já tava cansada daquela trama tão pesada e só assisti ao último episódio pra ver Beck ficar bem, pra ver o desenrolar da história. Chegou a ser sufocante. É uma experiência única, mas saber que isso é tão comum me fez sentir um tanto vulnerável até agora. Achei interessante também a abordagem de uma série de relacionamentos abusivos e problemáticos que beck tinha - com o pai, com a amiga, com Joe. Gostei de como isso foi abordado a partir da personalidade dela, forjada na desestrutura familiar, incapaz de perceber tudo isso, né. A série…